sábado, 30 de abril de 2011

O Protagonismo Juvenil como forma de enfrentamento da Violência

A palavra “Juventude” é muito conhecida e utilizada em nosso dia-a-dia, porém é uma palavra que, dependendo do contexto, pode encontrar diversos significados e referências. Na maioria das vezes, quando nos referimos a jovem ou a juventude, estamos nos referindo a pessoas de uma determinada faixa etária, por exemplo, a ONU (Organização das Nações Unidas) considera as pessoas jovens com idade de 15 a 24 anos de idade. No Brasil, segundo as diretrizes da Secretaria Nacional de Juventude, jovens são as pessoas de idade entre 15 a 29 anos. Já para Erickson (1976), a juventude apresenta-se como uma fase natural e obrigatória do desenvolvimento humano. Enfim é um período da vida caracterizado pela passagem da adolescência para a vida adulta. Um tempo de formação e afirmação de identidade, definição de projeto de vida pessoal marcado pela escolha profissional e pela busca de emprego como caminho de autonomia econômica. Enfim, um momento em que o jovem se torna protagonista de sua própria história.

Segundo Abramo (2005):
“Juventude é desses temas que parecem óbvios, dessas palavras que se explicam por elas mesmas; é assunto a respeito do qual todo mundo tem algo a dizer, normalmente reclamações indignadas ou esperanças entusiasmadas. Afinal, todos nós somos ou fomos jovens (há mais ou menos tempo), convivemos com jovens em relações mais ou menos próximas, e nas ultimas décadas eles tem sido tema de alta exposição nos diferentes tipos de mídia que atravessam nosso cotidiano (p.37).”
Acaba sendo muito difícil definir o termo juventude, porque depende de diversos fatores temporais, espaciais e culturais, dentro do período que a sociedade está vivenciando. Porém, é clara e grande a importância dessa fase da vida que todos devemos passar. Daí a importância em refletirmos: como está a vida da atual geração de jovens no Brasil e na América Latina?
Segundo a Pesquisa “Perfil da juventude brasileira” promovida pelo Instituto Cidadania 46% (quarenta e seis por cento) dos jovens já perderam parente ou amigo próximo de forma violenta e 38% (trinta e oito por cento) já viu de perto alguém que morreu por causas externas sendo que, destes, 62% (sessenta e dois por cento) foram assassinados. Ou seja, a juventude é mais vítima da violência do que propriamente culpada.
Devemos deixar claro que quando falamos de violência, estamos nos referindo a um comportamento que causa dano a outra pessoa, a sua integridade física e/ou psicológica. Existem vários tipos de violência, podemos destacar alguns tipos como: violência física, violência psicológica, violência política, violência cultural, violência verbal, violência sexual, violência contra a mulher, violência infantil, violência espontânea, violência institucional, violência política e violência no trânsito. Não cabe aqui delimitar quais as diferenças dos tipos de violências, nem acusar culpados ou motivos pelos quais esses tipos de violências estão constantes em nosso cotidiano. Mas vale lembrar essas violências não são apenas ações associadas a algum crime, e sim um fenômeno social que não pode ser visto como um mero espetáculo noticiado na mídia.
Souza (2008) diz que a vulnerabilidade social dos jovens pobres os torna principais vítimas do desemprego e marginalização, excluindo-os da sociedade e dando margem para comportamentos de apatia política, inconformismo, revolta, violências e delinqüência juvenil. Essa postura social agressiva e defensiva impede que o próprio jovem seja um protagonista no cuidado com a sua própria vida.
Em Juventude, violência e vulnerabilidade social na América latina: desafios para políticas públicas, Abramovay (2002) relaciona violência à falta de estrutura social e econômica quando diz que:
“(...) esses atores sofrem um risco de exclusão social sem precedentes devido a um conjunto de desequilíbrios provenientes do mercado, Estado e sociedade que tendem a concentrar a pobreza entre os membros desse grupo e distanciá-los do “curso central” do sistema social (p.33).”
Diante dessa realidade, que respostas podemos dar para superar essa violência que assola a juventude do Brasil e da América Latina? Como podemos dar a juventude condições de formação e afirmação de sua própria identidade?
São muitas as vezes que a pessoa do jovem tem a sua imagem estereotipada pela sociedade. Sobretudo quando os noticiários falam em “grupo de jovens”, comumente nossa expectativa se volta para a criminalidade, drogas, violência, etc, antes mesmo que se termine a frase. É fato que a atual juventude brasileira é vista como causadora da maioria da criminalidade e atos violentos praticados no Brasil, ou pior, muitas vezes a juventude é apontada como culpada de todos os problemas da sociedade. Diante dessa situação vemos lideranças políticas espalhadas pelo Brasil tentando conter a juventude de certo modo para diminuir a criminalidade, ou em busca de uma maior “segurança pública”. Assim nascem as propostas de redução da maioridade penal e toque de recolher, objetivando colocar os jovens infratores na cadeia ou privar os jovens de sua liberdade de ir e vir em determinados horários. Talvez para nossos governantes punir é muito mais fácil do que educar. Mas essa punição é mesmo eficiente? Será mesmo que os jovens são os principais culpados pela onda de violência que assola os centros urbanos? Será que devemos prender os jovens em casa para que não cometam crimes? Ou se cometerem crimes, devemos colocá-los em grande depósitos de gente chamados presídios?
É necessário ver a pessoa do jovem como sujeito de direitos, como pessoa que tem o direito de ser percebida em si mesma, é preciso verificar as diversas juventudes existentes na sociedade e perceber as necessidades dessa parcela da população. É gritante a falta de valor e desprezo com que o poder público lida com os jovens. Mesmo não sendo noticiado na mídia com a mesma efervescência que são noticiadas as ações de violência, a juventude vem se organizando como sociedade civil em luta pela Inclusão social e garantia de direitos humanos. Existem muitas iniciativas da juventude contra a violência, podemos destacar alguns como grupos culturais, esportivos, fóruns, coletivos, ONG’s, movimentos sociais, movimento estudantil, comunidades de fé e partidos políticos. E mesmo diante dessas iniciativas necessitamos que a juventude tenha acesso a uma educação de qualidade, oportunidades de trabalho, cultura, esporte, lazer, transporte e condições para uma vida segura. É preciso implementar tudo isso por meio de Políticas Publicas de/para/com a Juventude através de conselhos de direitos, fomentando a participação desses jovens ativistas nos Conselhos Municipais e Estaduais de Juventude. Ouvindo as necessidades dos jovens poderemos construir um mundo melhor para todos. Poderemos ver o protagonismo juvenil como forma de superação e enfrentamento da violência. Se valorizarmos o jovem e investirmos em seu protagonismo (Souza, 2008), o futuro melhor que sonhamos terá maiores condições de ser presentificado.

2011 - Ano de construção do caminho de Belém até Jerusalém

No caminho de revitalização da ação pastoral junto à juventude, provocado pela Pastoral Juvenil Latino Americana, iniciado com alguns movimentos pedagógicos em 2008, que convoca toda a Igreja do Continente a sair em Missão, conforme decisão da V Conferência dos Bispos em Aparecida - Brasil, a Pastoral Juvenil assumiu para si esta indicação porque percebeu que o convite para ser seguidora e discípula de Jesus é o caminho para sua revitalização.

Uma pastoral seguidora e discípula de Jesus é aquela que não fica parada dentro dos templos. Por isto o primeiro movimento sugerido foi o de aproximar. Aquele que diz para os/as jovens: “Nós queremos estar com vocês”. Um movimento que guarda a gratuidade de Jesus de estar com o seu povo. Ele é espelhado pela atitude de Jesus, que no caminho até Emaús se aproxima dos discípulos.
O segundo movimento pedagógico é o da ESCUTA, sobre o que falam em seus caminhos, ou seja, em seus lugares vitais. Ele é também o movimento que Jesus fez com os discípulos de Emaús: se colocou a ouvir o que eles conversavam.
Em 2010, como Pastoral Juvenil no continente, foi tempo de viver o movimento do DISCERNIR. Ele provocou a todos/as uma aventura em conhecer mais e melhor sobre a cultura juvenil, aprofundar leituras bíblicas, realizar vigílias e orações e, no segundo momento, do discernir; tomar a decisão. Assim como os discípulos de Emaús, quando fazem a experiência com o Ressuscitado, decidem voltar para Jerusalém, lugar da comunidade, do grupo e da vida marcada pela presença do Espírito Santo de Deus. Depois de caminhar com Jesus, agora são os/as discípulos/as que decidem fazer uma conversão, mudar de rumo, comover em outra direção.
No tempo de Jesus, a pedagogia mais utilizada era do discipulado. Aqueles/as que desejam aprender passavam a seguir o Mestre. Jesus diz para aqueles/as que desejam seguí-lo “Não tenho uma pedra para recostar minha cabeça”. Ele se apresenta como pobre e livre. Também nós, somos convocados/as a neste ano de 2011, a seguir Jesus e aprender Dele a ser discípulo/a.
Em 2011,como Igreja Jovem na América Latina, o convite é estar com Ele em Belém. Um lugar teológico, pois segundo alguns estudiosos, este lugar foi construído posteriormente, logo possivelmente não é o lugar de nascimento de Jesus. Porém, para nós, da comunidade dos que creem no ressuscitado, lendo a Palavra revelada, queremos nos encontrar em Belém.
Belém está na periferia da geografia do tempo de Jesus. É lá que somos apresentados/as ao Menino pela estrela que também guia pastores simples, atentos aos sinais dos tempos e confiantes no Deus de Jesus. É no caminho de Belém que os Reis Magos vão buscar informações oficiais para chegar até a gruta onde se encontra Jesus, mas é em Belém, depois do encontro com o menino na manjedoura, que vão perceber que terão que passar por outro caminho se quiserem manter vivo o Salvador entre nós.
Ali em Belém, na escola do discipulado, vamos encontrar várias pistas que Jesus vai nos dando para que a missão se realize hoje, de modo especial junto à juventude.
A Pastoral da Juventude, chamada à conversão para retornar por outro caminho, necessita rever suas pedagogias do trabalho com a juventude. Sua missão é anunciar o Reino de Deus aos/às jovens de tal modo que eles/elas reconheçam a Boa Notícia de Jesus para as suas vidas. Isto implica em mudanças profundas nas suas vidas. Antes, um caminho mais individual, agora comunitário, por isto, o empenho em criar, acompanhar grupos de jovens em cada espaço vital onde se encontra um/a jovem. O grupo como lugar da felicidade da nova possibilidade de vida. O grupo é um não ao sistema neoliberal que nos anuncia o egoísmo, a solidão, o consumismo e a vida voltada para si mesmo. Ele é o lugar da experiência comunitária, do sonho de um mundo mais justo, de um planeta cuja vida é respeitada e cuidada.
Belém nos indica o estilo de vida de Jesus. Este lugar marca a Sua opção pelos/as pequenos/as e pobres. A Sua chegada, anunciada por anjos, enviados do Senhor, dá sentido e esperança à vida dos/as pobres. Seguir a um mestre que não tem lugar para nascer é, ao mesmo, tempo um convite para que cada um/a de nós ofereça este lugar para que possa viver e crescer. É um Deus que não tem medo de arriscar por amor. Assim também a PJ é chamada a arriscar a pastorear toda a juventude que necessita de uma Palavra que seja de Vida. Fazer Pastoral da Juventude é estar com a juventude, cuidar para que a sua vida seja preservada, formar grupos para preparar jovens para fazer a pastoral. Os grupos e a organização são para que o atuar junto a toda juventude seja com qualidade, com dedicação e seja como testemunha do Ressuscitado que convoca para a vida comunitária.
A ação da PJ é pastorear, cuidar da vida da juventude de tal modo que a vida de todo e qualquer jovem seja defendida. Por isto, um apoio à Campanha contra o Extermínio de Jovens, a realização da Semana da Cidadania, cujo tema é a juventude como Terra Viva. Organizar ações pequenas, simples, porém que todos/as do grupo possam sentir-se pastores/as da juventude. Na Semana do Estudante, com coragem assumir a temática sobre a negritude e indígenas, como profetas da esperança, para superar todo qualquer preconceito contra as pessoas. Os preconceitos são barreiras que impedem os/as jovens de serem e viverem sua originalidade, sua felicidade a que foram chamados/as por Deus. Assumir com coragem a preparação e a realização do Dia Nacional da Juventude, discutir o protagonismo das mulheres, suas histórias de superação e aí reconstruir a esperança de toda humanidade com sua história de salvação e de cuidado do Deus da vida.
Fortalecer uma Pastoral da Juventude a partir dos ambientes – comunidades eclesiais, escolas, meios populares, universidades, campo e cidades para que, firmes na fé, com grupos articulados, possamos anunciar a Boa Nova como comunidade dos/as que crêem no ressuscitado.
O caminho do discipulado, que assume a missão de Jesus, passando por Belém, será o de estar disponível, livre, com coragem e sem medo de anunciar com ousadia que o Deus que é amor; amar sem medida no testemunho comunitário e pessoal do Seguimento. Queremos chegar a Jerusalém, lugar da comunidade, da manifestação do Espírito do Amor e do fogo.
Convidamos a todos/as agentes que trabalham com a juventude para compartilhar as experiências de planejamento, de roteiros para a formação de lideranças, reflexões para grupos e outros materiais que possam ajudar neste caminho de revitalizar a ação pastoral junto aos/às jovens.

Carmem Lucia Teixeira

Casa da Juventude Pe. Burnier - Goiânia/GO

Quem se identifica com a PJ consegue fazer a experiência de um Deus vivo

A Pastoral da Juventude tem uma história, uma espiritualidade e uma beleza que marcam as vidas de muitos jovens e muitas jovens. Nossa proposta não arrasta multidões e nem aglomera milhões de jovens, mas os poucos que se identificam conseguem fazer através do nosso jeito de ser Igreja uma experiência de um Deus vivo que nos dá a alegria de viver e de construir o Reino de Deus aqui e agora.
Não é fácil ser e fazer pastoral nos dias de hoje, porque enquanto a sociedade prega o individualismo, o consumismo e o prazer momentâneo, nós estamos buscando a construção da tão sonhada civilização do amor, onde o ser humano seja tratado com justiça e com respeito, onde não haja espaço para a solidão e nem para o isolamento e acima de tudo onde cada um e cada uma possa fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo e sabemos que este encontro não acontece de forma tão rápida, por essa razão continuamos acreditando no caminho do processo de educação na fé.
Sabemos que em tudo que fazemos encontramos dificuldades, mas elas jamais poderão abafar ou matar a nossa utopia e a nossa esperança. Não deixem de acreditar no novo, de acreditar na juventude, reconheçam os desafios, mas se alegrem com as luzes, com as sementes boas e com a terra que pode dar frutos.

Autor/Fonte: Hildete Emanuele - Secretária Nacional da PJ